Gap Year. Porquê? E porque não? Muitos já ouviram falar neste termo, que significa, entre outras coisas, ano sabático. É um ano de oportunidades! Por norma, é considerado por estudantes que pensam em entrar na Universidade, mas que ainda desconhecem o seu potencial e a área que realmente os apaixona, ou por universitários entre ciclos de estudo, como licenciatura e mestrado. Também se aplica a adultos que queiram mudar o seu rumo – seja este profissional ou pessoal. É um ano de descoberta pessoal, uma viagem de auto-conhecimento. E quão mágico pode ser um ano como este?
Cada pessoa faz o seu percurso, e nenhum Gap Year é igual a outro. Há quem escolha viajar, fazer voluntariado ou estágios nacionais ou internacionais, ou quem simplesmente se dedique a outras áreas, trabalhando ou fazendo cursos do seu interesse.
Eu escolhi fazer um Gap Year sem viajar para fora. Após três anos intensivos no ISCTE-IUL (grande, Grande escola!), na minha licenciatura em Psicologia, decidi que precisava de um tempo afastada dos meus estudos.
Eu considero-me uma pessoa extremamente focada em tudo o que faço e quero sempre, sem excepção, atingir sempre os melhores resultados e ter o melhor desempenho, pelo que o “suficiente” não chega para mim. Em circunstância alguma. Para ter tido Mérito na Licenciatura e Distinção no Mestrado, tive de trabalhar muitas, mesmo muitas horas, e sempre com elevadíssimos níveis de concentração, motivação e uma dose extrema de ansiedade. A capacidade de análise crítica era também indispensável. Por isso, conseguem imaginar quantos neurónios “queimei” durante estes anos? Pior ainda, a minha Mãe faleceu no primeiro semestre da minha Licenciatura, mesmo antes das minhas primeiras frequências. O mundo em meu redor despedaçou-se.
Felizmente, contei com o apoio da minha família e amigos, que me deram imenso suporte e pelo qual lhes estou muito grata.
Uma grande amiga minha, a Anita, partilhava comigo a ideia de fazermos uma pausa nos estudos. Iríamos regressar mais tarde, claro – porque fazer um Gap Year não é desistir! – mas precisávamos avidamente de um tempo afastadas destes níveis de intensidade. Tal como eu, a Anita foi (e é) uma pessoa extremamente dedicada e perfeccionista. Ela também precisava desta pausa. Imaginávamos todos os nossos planos e conversávamos sobre todas as oportunidades a que teríamos acesso quando tivéssemos tempo. Tempo, esse bem tão precioso.
No entanto, após terminar a última frequência, senti-me perdida. E agora? Não tenho nenhuma data, nenhum prazo. O que faço agora? Esta sensação de vazio pode ser incrivelmente assustadora quando, durante anos a fio, estivemos habituados a seguir rotinas e prazos. O desconhecido é sempre um pouco assustador, não acham?
Eu tinha um plano elaborado: iria dedicar-me mais à Escrita, fazer voluntariado, trabalhar e ter aulas de violino. A início, as coisas não correram como planeado. Já sentia o tilintar das críticas desconstrutivas das pessoas que não me apoiavam berrar-me aos ouvidos. Contudo, com o tempo, os meus objectivos alinharam-se no horizonte e pude concretizá-los. A todos! Trabalhei para isso e não podia ter pedido mais do meu Gap Year. O ritmo mais desacelerado (de certa forma) permitiu-me expandir a minha visão do mundo. Desenvolvi competências, ganhei experiência profissional, escrevi mais, fiz voluntariado, passeei mais e aprendi a tocar um instrumento, o violino (em adulta, que não é nada fácil!).
No fundo, fazer um Gap Year foi das melhores decisões que tomei. Uma decisão destas nunca deve ser desincentivada, pois permite-nos crescer a todos os níveis. Sou melhor pessoa e melhor profissional pela minha assertividade num ano sem prazos. E vocês, já fizeram ou pensaram em fazer o vosso Gap Year?
Elisabete Martins de Oliveira
20.03.2019