Como a Natureza morava longe, decidi trazê-la até mim. Até este lugar que chamo de casa, a este espaço a que chamo de inspiração.
Há algo inexplicável e reconfortante na presença desta água, na sua tranquilidade perante a adversidade das tempestades.
Lá fora, esconde-se um mundo que desconheço, uma cidade repleta de fantasmas falantes, aqueles que correm o seu dia-a-dia sem o viver. Eu afastei-me desses fantasmas, dessa pressa que pautava cada momento do meu dia. Tudo era feito ao cronómetro, ao mais ínfimo segundo, como se a exaustão tiranizasse o meu corpo; como se a minha mente não entrasse numa absoluta combustão – porque entrava. Cada segundo, cada minuto, era mais difícil de respirar, de absorver. O encontro com a Natureza fugia-me pelas mãos, incapazes de possuir o tempo, ainda que por breves instantes.
O problema é que não havia instantes.
E por isso trouxe a Natureza para junto de mim. Trouxe-a para me recordar que viver é mais importante do que cada momento cronometrado; do que cada moeda ganha; do que cada partícula de monóxido de carbono que me poluía os pulmões.
Hoje, refugio-me na minha liberdade. Parece estranha, esta reserva face à sociedade. Mas sabes o que me parece estranho também? Que estes seres, que habitam neste Planeta, morram antes de viver a plenitude da sua vida.
Elisabete Martins de Oliveira
27.11.2019