Mudar de vida não é fácil. É uma decisão carregada de tantas outras que esgota as nossas forças.
Qualquer mudança em ti representa uma mudança em quem te rodeia – vais mudar de país? Vais afastar-te da tua família, dos teus amigos, da cultura que conheces e do ambiente que te é tão familiar. Todos serão afectados pela tua saída.
Vais mudar de emprego? Vais sair de um lugar que já conheces, de junto de pessoas a quem chamavas de colegas de trabalho, a tua equipa. Vais para algo novo, para algo que – espero eu – te entusiasme mais, te ofereça algo de melhor que o teu emprego anterior. E, novamente, isto vai afectar os que te rodeiam – podes ir trabalhar para mais longe, o que significa que, entre outras coisas, chegarás mais tarde a casa, logo, passarás menos tempo com os que mais estimas.
Vais escolher viajar pelo mundo durante uns meses, ou uns anos? Mais uma vez, quem gosta de ti ficará preocupado contigo. E tu com eles. É um preço que se paga.
Nós não funcionamos sozinhos no mundo. Eu defendo a Teoria Ecológica de Bronfenbrenner, que olha para o desenvolvimento humano como ocorrendo dentro de sistemas, que vão desde os sistemas mais pequenos, como a família, aos grandes sistemas da sociedade, como a cultura, a sociedade e a política. As ações do ser humano influenciam os sistemas em seu redor na mesma medida em que estes sistemas influenciam este ser em desenvolvimento. Na prática, isto significa que tudo o que fazemos tem impacto nas pessoas mais importantes para nós, no nosso país, no mundo, e vice-versa.
Apesar de admirar esta teoria do desenvolvimento, gostava que as nossas decisões não tivessem tanto impacto nos outros. Eu sou o tipo de pessoa que, quando cai, gosta de cair sozinha. Não gosto de arrastar ninguém para o abismo comigo. Por outro lado, eu reconheço que o meu sofrimento se expande, como um dano colateral, para os que mais estimo. E eu não gosto quando isso acontece.
Sim, nós estamos intrinsecamente ligados aos outros, é um facto, e nada posso fazer acerca disso. Somos seres sociais, interdependentes. No entanto, se eu fizer asneira, o problema é meu – fui eu que errei, e mais ninguém tem culpa disso. E, contudo, quem realmente me estima sofre tanto quanto eu, ajuda-me sempre a reerguer-me, a encontrar novamente a luz, a motivação para continuar.
Estou grata a estas pessoas – nomeadamente ao meu companheiro, à minha família mais chegada e aos amigos próximos, que tanto se preocupam com o meu bem-estar. No entanto, não têm culpa das más decisões que eu tomo, e sinto-me culpada por, também eles, carregarem esse peso. Não é justo. Não para eles.
Mudar de caminho não foi fácil para mim, e eu espero que compreendam. Eu vou atrás da chama da minha felicidade. Eu sei que o meu coração bate mais rápido quando estou junto da Escrita. Sinto que estou no caminho certo. Mas espero não vos ferir se errar.
Elisabete Martins de Oliveira
08.04.2020