Receber feedback crítico em relação ao que escreves: sim? Não? Porquê? Quando? Como?
Alguma vez deparaste com este termo? Vamos começar, primeiro, por o definir: o feedback crítico aplicado à escrita e aos livros compõe um conjunto de comentários ou opiniões (positivas e negativas) em relação a um manuscrito ou a um livro já publicado. Por norma, é atribuído antes da publicação do original e tem como objetivo identificar possíveis melhorias no texto.
Provavelmente, já estás a imaginar o feedback crítico como sendo aquela crítica difícil de ouvir, que te desmoraliza e te faz pensar que o teu livro não é bom o suficiente. Vamos descobrir juntos se é isso mesmo?
Diz-se que escrever é uma atividade solitária. Talvez também sintas isto. Sentas-te a escrever na tua secretária e bates nas teclas do computador até que se formem palavras na folha em branco. E fá-lo durante horas, dias, semanas, meses e, quem sabe, anos…
Tudo sozinho/a.
Escrever é um trabalho de mérito. Dar vida a uma história que partiu inteiramente da tua imaginação é, no mínimo, surpreendente. E, por isso, se já escreveste ou se estás a escrever um livro, parabéns! Lembra-te de que estás a fazer um percurso admirável.
E, com todos os obstáculos que enfrentas pelo caminho — a velha procrastinação, o frustrante bloqueio de escritor e a acumulação insistente de tarefas —, o processo não fica mais fácil.
É que, depois da escrita, tens ainda toda uma série de etapas a percorrer.
A primeira é a revisão — a tua própria revisão. Este é um momento importante, em que vais «limar as arestas» do teu manuscrito, verificar erros ortográficos, incoerências no enredo e na construção das tuas personagens, falhas na cronologia, entre outros aspetos. É o momento em que deparas com tudo o que te escapou durante a escrita — o bom, o mau, o surpreendente e o inesperado.
É natural que sintas emoções mistas durante este período. E prepara-te, porque não vai ser o único momento em que as vais sentir. Este é um momento crucial, mas…
… o verdadeiro momento importante — que constitui a segunda etapa — é aquele em que entregas o teu manuscrito a outras pessoas para que te deem a sua opinião!
Este é dos momentos mais cruciais no teu percurso enquanto escritor/a. Tudo o que tu escreves importa, porque contribui para a melhoria da qualidade literária dos teus textos. Mas, lá porque o escreveste, não significa que seja material para publicação.
Como assim?, perguntas-te. Se te deu tanto trabalho, por que motivo não o podes publicar? Reflete sobre isto: no meio de tufos de espinhos, talvez encontres uma rosa — e essa é digna de mostrar aos leitores; o resto é treino.
Quantas vezes já escreveste textos que não avançaram? Que abandonaste? Que não fizeram sentido? Que achaste que não eram dignos de publicar nem nas redes sociais? Se o teu instinto te diz que não é material de publicação, talvez esteja certo. Mas a única maneira de o descobrires é oferecendo esses textos a pessoas para os lerem e te darem feedback — e esses leitores mágicos chamam-se de leitores-beta (ou beta-readers, em inglês).
O que são leitores-beta?
Os leitores-beta são leitores cuidadosos que leem textos antes que estes sejam publicados. São os leitores antes dos teus leitores — e são fundamentais no processo de escrita. Por isso, respondendo à primeira questão no título deste artigo: sim! Deves receber feedback crítico em relação ao que escreves — sobretudo em relação a projetos literários que queres mesmo partilhar com o mundo!
E deves obter esse feedback porque a tua perspetiva enquanto escritor/a da tua história é e enviesada. As mães também não dizem que os seus filhos são os mais lindos do mundo? Aqui, o mesmo aplica-se. Enquanto autor/a do teu livro, vais achá-lo perfeito, o teu bebé. E ninguém to pode negar.
Mas é precisamente aí que reside o problema. Quando consideras o teu livro perfeito, mesmo com todas as imperfeições que possa ter, estás a arriscar que os teus leitores apontem falhas nele. É claro que tu não vês esses erros, porque estás demasiado encantado/a com o livro que escreveste. Vês o ponto aonde quero chegar? É por esse motivo que os leitores-beta são tão essenciais. Eles apontar-te-ão o que podes melhorar na tua narrativa.
Os teus leitores-beta são teus aliados.
O interesse de ambos é, ou deve ser, o mesmo: tornar o teu livro na melhor versão que ele conseguir ser. Eles não querem prejudicar-te. Enquanto escritor/a, deves ouvir com atenção o que têm para dizer — e sim, o seu feedback deve ser construtivo, isto é, deve estar relacionado com o teu livro e conter os motivos que fizeram àqueles leitores gostar da história, e o que não fez tanto sentido para eles, e justificado.
Quando deves pedir este feedback?
Mas quando deves pedir este tipo de feedback? Há escritores que optam por dar o seu livro a ler a leitores-beta nas fases iniciais de escrita, algo que eu não aconselho. O processo de escrita é teu, e é composto por momentos de profunda conexão com a história, que podem ser perturbados por um feedback prematuro. Por isso, aconselho que recolhas feedback a seguir à primeira revisão do teu manuscrito. Só depois de completares a escrita e a primeira «limpeza» das incoerências deves dar o teu livro a ler a outras pessoas.
Logo a seguir à primeira revisão é um bom momento, porque, além de conheceres a história de uma ponta à outra, também tens consciência do que modificaste. Desta forma, vais mantê-la bem presente na tua memória, e saber exatamente ao que os leitores se referem quando te oferecerem o seu feedback crítico.
Como podes encontrar leitores-beta?
Agora, já sabes que é benéfico para ti e para o teu livro receber feedback dos leitores-beta. Recomendo que recolhas este feedback de, pelo menos, 3 pessoas, para juntares opiniões mais diversas. E deves fazê-lo a seguir à primeira revisão do teu livro. Mas, então, como podes encontrar leitores-beta? Simples: se não tiveres ninguém no teu círculo que seja um leitor voraz, procura nas redes sociais!
Existem muitos bookstagrammers, no Instagram, book bloggers, em vários blogs, e grupos no Facebook de escritores e leitores que estarão dispostos a ler a tua história e dar a sua opinião. Em Portugal, existe a SEP, Sociedade de Escritores Portugueses, fundada e gerida pela autora Patrícia Morais, que reúne escritores e leitores-beta, numa parceria fundamental e inovadora no nosso país.
Dedica-te a conhecer um pouco os leitores que escolheste, a perceber as suas preferências literárias, e estabeleçam um acordo de leitura com um prazo.
Para o teu crescimento enquanto escritor/a, receber feedback crítico é uma etapa essencial do processo. Enquanto autor/a, a tua visão enviesada da história não te permite ver os erros e as falhas que ela possui. Perceber o que funciona e o que não funciona tão bem para os teus leitores não só te permite melhorar a qualidade literária do que escreveste, como é um passo gigante para o sucesso do teu livro! Por isso, logo que termines de rever o teu livro pela primeira vez, escolhe leitores-beta em quem confies, e recebe o feedback crítico de que o teu livro beneficiará!
Como procuras feedback crítico? Partilha aqui nos comentários!